• Nacionalista Luzia Zua e Carolina Cerqueira entre os condecorados


    A atribuição, segunda-feira, da Medalha Comemorativa dos 50 anos da Independência à nacionalista Luzia Zua, de 68 anos, e a personalidades da RDC, Portugal, Cuba e Suécia, assinalaram, em Luanda, os momentos mais altos da 6.ª Cerimónia de Condecorações, orientada pelo Presidente da República, João Lourenço.

    Distinguida na Classe Independência, 50 anos após ter sido presa no campo de concentração de São Nicolau, pelo regime colonial português, a nacionalista Luzia Zua não conseguiu esconder a enorme satisfação.

    Natural do Cuanza-Norte, a anciã contou aos jornalistas que foi detida com os pais pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), e confessou que “comeu o pão que o diabo amassou” durante os cinco anos de confinamento.

    “Fomos transferidos para o campo de São Nicolau. Ali o trabalho era duro: varrer, carregar sal, escalar peixe, sempre em formatura, sem tempo para descansar. Sofremos muito, éramos muitos naquele campo. Permanecemos ali cinco anos até que, a 25 de Abril, nos foi dada a liberdade de regressar às nossas terras natais”, disse.

    A mulher, que não escondeu a sua felicidade, recordou os companheiros que teve de deixar para trás naquela altura. “É preciso olhar, também, para São Nicolau, porque morreu muita gente ali. Pelo menos, deviam recuperar as campas daquelas pessoas que enterramos naquele local. Eu própria só saí de lá em 1975, mas até hoje carrego as marcas deste sofrimento, até nos meus filhos”, referiu.

    A nacionalista confessou carregar, ainda, as marcas de uma época que exigia bravura e ao mesmo tempo coragem aos angolanos, tendo reconhecido que valeu a pena a luta pela liberdade. “Apesar de tudo, resisti, e aqui estou hoje, para testemunhar e honrar a luta que travamos pela Independência de Angola”, regozijou-se.

    Personalidades estrangeiras
    A 6.ª Cerimónia de Outorgas testemunhou, ainda, a homenagem, a título póstumo, a cidadãos da República Democrática do Congo (RDC), Portugal, Cuba e Suécia, que contribuíram para o alcance da Independência de Angola.

    Entre os distinguidos, esteve o antigo ministro do Interior da RDC, Etienne Tshisekedi, e o almirante português Rosa Coutinho, representado pela nora, Maria Emília, que sublinhou o simbolismo do reconhecimento.

    “Isto foi um acto de grande coragem e patriotismo da presidência de Angola. Não só celebrar a Independência, como celebrar a História de Angola, na qual o meu sogro teve um papel decisivo”, afirmou.

    Maria Emília recordou, ainda, que Rosa Coutinho “foi um grande amigo de Angola”, tendo marcado de forma significativa o período de transição para a independência, enquanto alto-comissário português, cargo que ocupou até à assinatura dos Acordos de Alvor, em 1975.

    Outro momento de destaque foi a homenagem a Álvaro Cunhal e Sérgio Vilarigues, representados por José Augusto Esteves, membro da Comissão Central de Controlo do Partido Comunista Português. O responsável realçou que ambos estiveram ao lado da luta dos povos africanos pela libertação.

    Paz e Desenvolvimento
    Durante a cerimónia, na Classe Paz e Desenvolvimento, foram homenageados os embaixadores de Angola na China, Dalva Ringote Allen, e na Etiópia, Miguel Bembe, tendo este último considerado a condecoração recebida das mãos do Presidente da República “um marco não apenas pessoal, mas também colectivo, em reconhecimento ao trabalho desenvolvido em prol da diplomacia angolana”.

    Foram também distinguidos os jornalistas da TPA Alexandre Cose e Analtina Dias, que dedicaram a distinção a todos os profissionais da Comunicação Social. A nível do desporto, receberam a medalha o antigo guarda-redes da Selecção de Futebol João Ricardo, o ex-futebolista Love Cabungula, o treinador de basquetebol Alberto de Carvalho “Ginguba” e a antiga atleta Ana Isabel, recordista de várias provas de meio-fundo.

    Chefe de Estado visita exposição em homenagem a Agostinho Neto
    O Chefe de Estado, João Lourenço, e a Primeira-Dama, Ana Dias Lourenço, visitaram, ontem, à margem da 6.ª Cerimónia de Condecorações, a exposição fotográfica que retrata a vida e obra do primeiro Presidente de Angola e Fundador da Nação, António Agostinho Neto.

    A exposição bibliográfica e fotográfica no palco das condecorações justifica-se pelo facto de a 6.ª Cerimónia de Outorgas da Medalha Comemorativa dos 50 anos da Independência estar a homenagear o Herói Nacional, António Agostinho Neto, além dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria.

    Montada à entrada do salão nobre do Hotel Intercontinental, a exposição conta a história do primeiro Presidente angolano, com imagens que simbolizam a sua “liderança vitoriosa para a conquista da Independência e a continuidade do desenvolvimento de Angola”.

    De acordo com a comissão organizadora da cerimónia, o material para a exposição foi fornecido pelo Memorial António Agostinho Neto, Fundação António Agostinho Neto e pelo veterano fotógrafo Carlos Alberto.

    Em Julho deste ano, o primeiro Presidente da República de Angola, António Agostinho Neto, foi, também, homenageado com a Medalha da Palma Militar, em função do Sistema de Condecorações Militares das Forças Armadas Angolanas (FAA), por ocasião dos 50 anos da Independência Nacional.

    A distinção insere-se na Classe Única, reservada às personalidades cujo contributo foram determinantes para a soberania nacional e o fortalecimento das instituições do Estado.

    Carolina Cerqueira dedica medalha ao povo

    A líder do Parlamento angolano, Carolina Cerqueira, dedicou, ontem, aos angolanos a medalha de condecoração a si atribuída, pelo contributo para uma Angola independente e soberana.

    O gesto da presidente da Assembleia Nacional foi partilhado com a imprensa, após ser outorgada na Classe Paz e Desenvolvimento, pelo Presidente da República, João Lourenço, à margem da 6.ª Cerimónia de Condecorações.

    “Gostaria de dedicar esta minha medalha a todas as angolanas e angolanos, que ajudam a construir Angola, sobretudo aqueles que estão na memória do nosso povo, pelo contributo que deram para a Independência e à liberdade nacional”, disse.

    De acordo com Carolina Cerqueira, a condecoração é um simbolismo de grande relevância, principalmente para aqueles que dedicaram as suas vidas ao serviço público nos mais variados sectores.
    “Para a minha família, certamente, será uma satisfação saber que fui homenageada pelo mais alto mandatário da Nação angolana, o Presidente João Lourenço, em alusão aos 50 anos da independência Nacional”, regozijou-se.

    Do ponto de vista político, destacou, é significativo pelo facto da legisladora ser agraciada na sessão dedicada ao primeiro Presidente da República Popular de Angola, António Agostinho Neto, e aos Antigos Combatentes.

    Desportistas
    Carlos Morais e Miler motivam nova geração

    Os basquetebolistas Carlos Morais e Felizardo Ambrósio e o futebolista Love Cabungula incentivaram as novas gerações a acreditarem nos sonhos para, no futuro, serem, também, motivo de orgulho para a Nação.

    Para Carlos Morais, a condecoração demonstra o reconhecimento pelo seu desempenho e contributo na modalidade, sempre com sentimento do dever patriótico.

    “Às novas gerações apelo que continuem a sonhar, acreditem no vosso potencial, trabalhem muito e sejam responsáveis, para que no futuro possam estar onde muitos de nós chegámos, em especial neste momento, que é um motivo de grande satisfação e orgulho”, declarou o atleta.

    Por sua vez, Felizardo Ambrósio “Miler”, que manifestou grande satisfação pela condecoração, encorajou os jovens no sentido de serem disciplinados e respeitarem o processo, trabalhando sempre em prol da pátria.

    O antigo jogador da Selecção Nacional, os Palancas Negras, Love Cabungula afirmou que o gesto é uma forma de os jovens futebolistas abraçarem a causa do desporto-rei e darem tudo de si com o objectivo de serem, também, reconhecidos.