O Presidente João Lourenço aplaudiu, segunda-feira, em Luanda, os esforços envidados pelo homólogo norte-americano, Donald Trump, e por alguns países da Liga Árabe, por trazerem esperança para o fim do conflito israelo-palestiniano e a possibilidade da criação do Estado da Palestina, como determinado pelas Nações Unidas em resoluções do seu Conselho de Segurança.
O Chefe de Estado referiu que a deterioração "grave" da situação de segurança na Europa, em África e no Médio Oriente, ao mesmo tempo, decorre da não-observância e obediência aos princípios plasmados na Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional, que regem as relações entre os Estados.
João Lourenço salientou que a violação dos princípios da não-agressão, do respeito da independência e da soberania dos Estados, da necessidade da resolução dos conflitos pela via pacífica, através de negociações, da não-ingerência nos assuntos internos dos Estados, tem colocado em perigo a paz e a segurança mundiais.
"Esta situação agrava-se com o facto de algumas das grandes potências membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas ignorarem e desautorizarem o próprio órgão de que são membros, com suas medidas unilaterais baseadas na força da força e não na força dos princípios universalmente consagrados", declarou.
A União Europeia, prosseguiu o Presidente João Lourenço, enfrenta, hoje, o que chamou de um grande desafio de segurança, com a guerra contra a Ucrânia, que se arrasta já por quase quatro anos e que disse ter provocado, até aqui, um "cortejo de mortes", feridos, deslocados internos e refugiados espalhados pela Europa, a destruição de parte significativa das principais infra-estruturas do país e a ocupação e anexação de parte do seu território.
João Lourenço ressaltou que a União Africana enfrenta, também, uma sucessão de mudanças inconstitucionais de poder em alguns países da África Ocidental e, mais recentemente, num país da SADC, o Madagáscar. Falou também do terrorismo na região do Sahel, na Somália e no Norte de Moçambique, a guerra no Sudão e no Leste da República Democrática do Congo. Avançou que, nestes dois casos, existe o perigo de secessão dos países, se a actual situação prevalecer sem que sejam tomadas medidas adequadas que assegurem o fim da guerra e o estabelecimento de uma paz duradoura.
Para a inversão dos conflitos mencionados, o Estadista angolano disse ser urgente que o multilateralismo seja resgatado, para o bem da Humanidade.
Alterações climáticas
Outro tema que mereceu destaque na intervenção de João Lourenço tem a ver com as alterações climáticas. O Chefe de Estado disse que as alterações climáticas vêm ameaçando, cada vez mais, o Planeta, com o aquecimento global crescente e suas consequências, como o aumento significativo de fenómenos agressivos da natureza, como furacões, tufões, tornados, vastas inundações, aluimento de terras, seca severa, incêndios florestais e outros.
João Lourenço ressaltou que estes problemas derivam do aumento das emissões de gases de efeito estufa, por consumo excessivo de combustíveis fósseis e desmatação de uma vasta área de florestas, que considerou os pulmões do Planeta.
"Andamos de COP em COP, estando já na edição 30, que teve lugar em Belém do Pará, no Brasil, sem que se vislumbre pelo menos uma tendência de regressão das alterações climáticas, porque, de facto, muito temos falado, mas feito realmente pouco", lamentou.
O Chefe de Estado angolano reiterou que, pelo seu muito baixo nível de industrialização, África continua a ser o continente que menos produz e emite gases de efeito estufa para a atmosfera.
Por essa razão, disse ser o continente que pode contribuir mais no combate às alterações climáticas, desde que seja aumentada a sua produção e transportação de energia de fontes limpas, com vista a se aproveitar o máximo do potencial hídrico e solar que o continente oferece, com a construção de mais barragens hidroeléctricas e parques fotovoltaicos de energia solar.
"Vamos continuar a lutar contra a desertificação das nossas terras por acção humana resultante da deflorestação, quer pelo abate indiscriminado das nossas espécies vegetais para comércio ilegal de madeira, quer pelos incêndios florestais com o argumento da necessidade de manter velhas práticas tradicionais", assegurou.
Nesta equação, João Lourenço defendeu, também, a necessidade de um grande investimento, para a substituição da lenha e o carvão vegetal por gás de cozinha em grande parte dos lares em África, de modo a reduzir a desmatação das florestas, que disse ser difícil de implementar, pelas implicações financeiras e mesmo de ordem cultural, "mas necessária e possível no médio/longo prazo".