• Industrialização do continente é condição essencial para assegurar a prosperidade e soberania económica


    O Presidente João Lourenço apontou quarta-feira, em Nova Iorque, Estados Unidos da América, a industrialização como um dos factores fulcrais para a aceleração do desenvolvimento do continente africano.

    Ao intervir na reunião de alto nível sobre a IV Década de Desenvolvimento Industrial de África, realizada à margem da 80.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o Chefe de Estado angolano referiu que a industrialização do continente não é apenas uma opção estratégica, mas sim uma condição essencial para assegurar prosperidade, integração regional e soberania económica dos países da região.

    Para que os resultados sejam duradouros nas áreas visadas, o Presidente da União Africana disse ser necessário alinhar este esforço com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, de modo a garantir que o progresso económico caminhe de mãos dadas com a justiça social e a preservação ambiental.

    “O futuro de África, com mais de 1,4 mil milhões de cidadãos, está assegurado com a industrialização do continente, que é o caminho a ser percorrido para se oferecer empregos dignos à juventude, empoderar as mulheres no centro da produção e da inovação e posicionar o continente no coração da economia do conhecimento e da transição energética”, declarou o estadista angolano.

    O Presidente em exercício da União Africana destacou que a experiência acumulada durante a Primeira e a Segunda Década do Desenvolvimento Industrial para África, respetivamente 1980-1990 e 1993–2002, demonstrou que a industrialização é condição indispensável para a auto-suficiência e a auto-sustentação.

    João Lourenço referiu que o estado incipiente em que se encontra, de alguma forma, o comércio agro-alimentar intra-africano, em comparação, por exemplo, com outros continentes, mostra a importância da industrialização como chave para desbloquear todo o potencial do sector agrícola e transformá-lo em cadeias de valor regionais fortes.

    Para João Lourenço, o tema central da reunião de ontem (Acelerar a Industrialização de África: Mobilização de Alto Nível para o IDDA IV)” foi um apelo à acção imediata, na medida em que o continente não pode esperar mais uma geração para fazer da industrialização uma realidade, que só se tornará notória se se agir com vontade política firme, susceptível de garantir estabilidade e confiança e se expressar ao mais alto nível.

    Nessa equação, o líder em exercício da União Africana considerou imperioso reconhecer o papel indispensável da mobilização de financiamento inovador, incluindo fundos de capital de risco, títulos de desenvolvimento sustentável e parcerias público-privadas eficazes, associando-se a tudo isso a capacitação técnica e tecnológica do capital humano, principalmente dos jovens, para que se tornem capazes de assumir a liderança da revolução digital e energética, num contexto em que terá, como disse, de se promover a integração regional efectiva, capaz de transformar o mercado africano num espaço competitivo, dinâmico e interligado.

    O Chefe de Estado disse que essa herança histórica, somada à experiência da IDDA III, mostrou, também, que sem infra-estruturas adequadas, sem inovação tecnológica e sem cadeias de valor integradas, será difícil alcançar os objectivos de desenvolvimento sustentável, nem a transformação estrutural que o continente ambiciona.

    Sobre este particular, João Lourenço realçou que a Agenda 2063 reconhece, de forma clara, a industrialização como motor estratégico da transformação africana, assente em pilares como a agro-indústria, as pequenas, médias empresas, o sector privado, as cadeias de valor regionais, a economia verde e a produtividade.

    Ressaltou que o Programa Abrangente de Desenvolvimento Agrícola de África (CAADP), lançado em 2003 e reafirmado em 2014, é o exemplo de como a agricultura, que representa 17 por cento do PIB do continente e garante emprego a cerca de 50 por cento da população da África Subsariana, deve estar ligada à industrialização.

    “Devo recordar aqui, com um grande apreço, que na sua elaboração, o IDDA integrou a Declaração sobre a criação da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA), que se tornou já num dos marcos mais emblemáticos do nosso percurso comum”, recordou João Lourenço.

    Hoje, com a adesão de 54 países e a ratificação por 49 Estados, o Presidente em exercício da União Africana fez saber que a ZCLCA representa o maior espaço de comércio livre desde a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), sendo importante, por isso, considerar que a sua implementação tem potencial para aumentar o comércio intra-africano entre 15 e 25 por cento, criando maiores oportunidades de exportação, maior valor acrescentado industrial e serviços diversificados.

    “É com esta confiança e com esta determinação que Angola reafirma o seu compromisso em trabalhar lado a lado com a União Africana, com as Nações Unidas, com os bancos de desenvolvimento, com o sector privado e com a sociedade civil, estando empenhada no concerto das nações africanas em assumir responsabilidades, criar sinergias e mobilizar recursos que transformem esta visão numa realidade”, destacou.

    Experiência de Angola
    O Presidente da República partilhou, no encontro, a experiência de Angola, sobretudo a cooperação de longa data com a UNIDO, consubstanciada no Programa-Quadro celebrado em 2016.

    Disse que esta cooperação está centrada no apoio à diversificação económica e no Objectivo de Desenvolvimento Sustentável n.º 9, que visa construir infra-estruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.

    Não obstante as limitações na execução plena do Programa, João Lourenço informou que dele resultaram iniciativas importantes, como a criação de Parques Industriais Rurais e Programas de Substituição das Importações e Promoção das Exportações, que aumentaram a capacidade de produção nacional.

    A par disso, deu a conhecer que o país está a investir em infra-estruturas estratégicas, como o Corredor do Lobito, que conecta o Atlântico ao interior do continente e ao mundo e a expandir zonas industriais e cadeias de valor globais, acções que potenciam Angola como plataforma logística e placa giratória de transformação regional.

    “Neste quadro, quero sublinhar a realização, em Outubro próximo, em Luanda, da ‘Cimeira sobre Financiamento de Infra-estruturas como Factor de Desenvolvimento de África’, iniciativa lançada por Angola, em Fevereiro deste ano, em Adis Abeba, que se poderá constituir num momento crucial para alinhar investimentos estratégicos e consolidar parcerias regionais e internacionais, funcionando como o prolongamento natural desta mobilização de alto nível que hoje iniciamos aqui em Nova Iorque”, destacou o Presidente João Lourenço.