O Secretário-Geral da ONU voltou a defender, segunda-feira, uma maior representação de África nas instituições internacionais, incluindo a sua presença como membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Ao discursar, em Luanda, na abertura da Cimeira União Africana-União Europeia, António Guterres afirmou que Europa e África têm “uma oportunidade para rectificar injustiças históricas”. Sustentou que esse processo deve começar, por exemplo, por garantir uma maior representação das nações africanas, mas também por se “acabar com os velhos modelos de exploração de recursos”. “África tem os recursos e a dinâmica de uma força jovem e Europa tem o capital e o conhecimento tecnológico”, disse o antigo Primeiro-Ministro português, no âmbito do que é preciso fazer ao nível do investimento ao nível da ação climática. Guterres também defendeu que é preciso reformar “a arquitetura financeira actual”, que “é igualmente injusta e ineficaz”.
Multipolaridade interconectada
No seu discurso, António Guterres, defendeu uma multipolaridade interconectada com a rede inclusiva de cooperação no domínio do comércio, desenvolvimento, instituições financeiras e a uma crescente coordenação política.
De acordo com o líder da maior organização intermnacional, o sucesso da multipolaridade actual depende de instituições fortes e dinâmicas multilaterais como condição de estabilidade e equilíbrio.
A parceria Europa - África, segundo António Guterres, estão bem posicionadas para ser um eixo central de um novo mundo multipolar. "Esta realidade emergente oferece uma oportunidade para corrigir injustiças históricas e estabelecer um sistema mais justo e equilibrado para países há muito excluídos da tomada de decisões globais", acrescentou.
Guterres citou três áreas onde a cooperação entre os dois continentes pode desempenhar um papel decisivo na orientação desta nova realidade da multipolaridade, nomeadamente o desenvolvimento sustentável, a acção climática e a paz.
No âmbito do desenvolvimento sustentável, defendeu a necessidade de reforma da arquitectura financeira global para benefício de todos.
Nesta questão, António Guterres salientou que a reforma significa terminar com o ciclo vicioso da dívida, triplicar a capacidade de empréstimos dos bancos de desenvolvimento multilaterais, bem como dar aos países em desenvolvimento maior participação e influência nas instituições financeiras globais, como parte da reforma da arquitectura financeira.
Relativamente à acção climática, António Guterres mencionou a demanda por minerais que o continente africano possui, com destaque para os minerais críticos, onde a procura impulsionada pela transição para energias limpas deve triplicar até 2030.
António Guterres reconheceu que com a formação adequada e financiamento, a revolução das energias renováveis pode capacitar toda a África. Porém, disse que isso só poderá ocorrer "se a cooperação internacional permitir uma transição justa para longe dos combustíveis fósseis, incluindo a electrificação do continente". Para permitir uma transição justa, reforçou a necessidade de os países desenvolvidos juntos com os seus parceiros assegurarem o compromisso para o financiamento da adaptação dupla este ano e envidar todos os esforços para triplicá-lo até 2035 e tornar as decisões da COP 29, de Baku, Azerbaijão, uma realidade.
"A África tem os recursos e uma força de trabalho jovem e dinâmica. A Europa tem o capital e o conhecimento tecnológico. A acção climática é um dever, mas entre os dois é uma oportunidade", sublinhou.
Apelo ao financiamento nas operações de paz em África
No domínio da paz, António Guterres falou sobre os conflitos que assolam alguns países africanos, como Sudão, Sudão do Sul, Somália, Líbia, Mali e República Democrática do Congo, tendo apelado a um financiamento sustentável, flexível e previsível para as operações de paz lideradas pela União Africana (UA), conforme aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU na sua resolução 2719.
"O Pacto para o Futuro, adoptado no ano passado, chama atenção a assentos permanentes para África no Conselho de Segurança das Nações Unidas, para corrigir uma profunda injustiça histórica e fortalecer a capacidade do Conselho para promover a paz em todo o mundo", salientou.