• António Costa defende Mundo multipolar para desafios globais


    O presidente do Conselho Europeu, António Costa, defendeu terça-feira, em Luanda, um Mundo multipolar em que os dois continentes promovam uma ordem multilateral baseada em regras que respondam aos desafios globais e cumpram com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

    Ao discursar na sessão de encerramento da 7.ª Cimeira União Africana - União Europeia, que decorreu na capital angolana nos dias 24 e 25, António Costa disse que esta ordem multilateral permite o combate às alterações climáticas, pobreza e às desigualdades, garantia da segurança alimentar, segurança na saúde e o combate ao crime transnacional.

    "Hoje, o Mundo é muito diferente, e defender o multilateralismo implica defender a reforma das Organizações Internacionais, Organizações Financeiras Internacionais, Organização Mundial de Comércio e o Conselho de Segurança das Nações Unidas", afirmou o ex-Primeiro-Ministro de Portugal.

    António Costa referiu que, por meio desta mensagem comum e trabalho conjunto, foi aprovado o Pacto para o Futuro na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 2024, garantindo que a União Africana tenha hoje assento no G-20.

    "Actualmente, nenhum conflito é regional. Qualquer conflito viola a ordem internacional e os valores da Carta das Nações Unidas. Seja a violação do direito humanitário em Gaza, no Sudão, na Somália, República Democrática do Congo ou Ucrânia são os valores da ordem internacional que estão em causa e que todos respeitam", sublinhou, acrescentando que a parceria entre os dois blocos continentais assenta na defesa da paz e segurança.

    Neste domínio, António Costa avançou que a União Europeia já financiou, em mais de mil milhões de euros, equipamentos das autoridades africanas para combater o terrorismo, crime organizado ou a desinformação, tendo a União Europeia 12 das 21 missões externas para a protecção da paz e segurança em África.

    Primeiro parceiro comercial
    O responsável máximo do Conselho Europeu indicou, também, que a União Europeia é o primeiro parceiro comercial do continente africano, e que 33 por cento das transacções comerciais de África são com o mercado europeu.

    Deste modo, o português ao serviço da União Europeia assegurou que o desenvolvimento da Zona de Comércio Livre Continental Africana vai potenciar o crescimento e o investimento das relações comerciais entre os dois continentes.

    António Costa alertou para a importância da necessidade de se dar um tratamento sério ao assunto da dívida, que impede a capacidade de desenvolvimento do continente africano.

    "Teve lugar este ano, em Sevilha, Espanha, uma importante conferência sobre o financiamento para o desenvolvimento. É tempo, agora, de pôr em marcha aquilo que acordámos", referiu.

    António Costa defendeu, também, a necessidade de investimento nas Infra-estruturas, energia renovável, conectividade digital, capacidade africana de produzir vacinas em África e para África, bem como reforçar a segurança na Saúde. Indicou, na mesma senda, o desenvolvimento de cadeias de valor sustentáveis na Agricultura ou nos materiais críticos.

    "É para apoiar este investimento que a União Europeia criou a iniciativa Global Gateway, com mais de 254 mil milhões de euros", salientou, apelando ao trabalho conjunto.

    Investimento no capital humano
    O presidente do Conselho Europeu defendeu o investimento no capital humano e na juventude, considerando ambos os maiores recursos do continente que impulsionam o desenvolvimento sustentável.

    "Temos de olhar para as cadeias de valor que são necessárias desenvolver em África, numa lógica de parceria e de forma que o valor acrescentado e os empregos sejam gerados e fixados no continente africano. Até 2050, cerca de 800 milhões de novas pessoas chegarão ao mercado de trabalho em África", enfatizou.

    Para que as 800 milhões de pessoas reforcem a capacidade de produção, António Costa realçou que é fundamental investir na Educação, no apoio ao empreendedorismo, na mobilização da criatividade da juventude africana, assim como garantir que as cadeias de valor produzam riqueza nas regiões onde são geradas.

    De acordo com António Costa, as duas instituições continentais têm, até o ano de 2030, por implementar a visão conjunta da Cimeira, com vista à construção de um futuro comum de paz e prosperidade partilhada.

    "Não podemos, nos próximos anos, perder a dinâmica que esta Cimeira demonstrou, a vontade de trabalharmos em conjunto, pois, hoje mais do que nunca, o Mundo inteiro precisa que juntemos as mãos, não só como continentes que têm uma histórica relação profunda, mas sobretudo como dois parceiros", referiu o dignitário do Conselho Europeu.