• África a caminho de se tornar o principal motor do crescimento económico mundial


    O continente africano está a caminho de se tornar o principal motor do crescimento económico mundial, graças ao mercado em expansão, à força de trabalho dos jovens e à abundância de recursos naturais, afirmou segunda-feira, em Luanda, o presidente da Comissão da União Africana (CUA), Mahamoud Ali Youssouf.

    Ao intervir na abertura da 7.ª Cimeira União Africana–União Europeia, que decorre até hoje no Salão Protocolar da Presidência da República, Mahamoud Youssouf acrescentou que África está a progredir para assumir um papel central nas cadeias de valor globais.

    A era de África como mero fornecedor de matéria-prima, indicou o responsável da União Africana, está a chegar ao fim, defendendo parcerias comerciais mais equilibradas.

    O presidente da Comissão da União Africana defendeu um multilateralismo renovado, baseado na igualdade entre nações, no respeito mútuo e na promoção de interesses vitais comuns.

    O dirigente alertou para a crescente incerteza no cenário internacional, marcada pela escalada de conflitos, ameaça do terrorismo e pelo enfraquecimento do Direito Internacional.

    Mahamoud Ali Youssouf sublinhou ainda que a geopolítica mundial tem revelado limitações preocupantes, visíveis no bloqueio das decisões no Conselho de Segurança das Nações Unidas e na fragilização das regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

    Durante cerimónia, o presidente da CUA destacou a relevância histórica da Cimeira de Luanda e saudou os marcos, descrevendo-os como eventos carregados de simbolismo e esperança para o continente.

    Apesar dos desafios, o presidente da Comissão da UA recordou que os líderes africanos têm mantido uma visão clara para o futuro, expresso na Agenda 2063, que define o caminho para uma África pacífica, integrada e próspera.

    Organismos globais
    Num contexto de crescente polarização internacional, Mahamoud Ali Youssouf afirmou que a África deve reivindicar o seu espaço nas instâncias de decisão mundial. Destacou a entrada do continente no G20, felicitando a África do Sul por representar bem as ambições africanas no grupo das maiores economias globais.

    O dirigente reiterou, ainda, as exigências africanas no âmbito do Consenso de Ezulweni, que defende uma representação justa e equilibrada no Conselho de Segurança da ONU, bem como nas principais instituições financeiras internacionais.

    “As nossas exigências são colocadas no Conselho de Segurança das Nações Unidas na base do Consenso de Ezulweni. E nós exigimos uma representação equitativa nas instâncias financeiras internacionais”, disse.

    Mahamoud Ali Youssouf destacou a longa história partilhada pelos dois continentes e os interesses comuns, que na sua opinião continuam a exigir uma cooperação estreita.

    Indicou que o continente africano espera da Europa investimentos reforçados em projectos estruturantes, com destaque para corredores logísticos, transição energética e transformação agroindustrial, sectores considerados prioritários no âmbito do Pacto com África e da iniciativa Global Gateway.

    “O nosso continente conta com a Europa para intensificar os investimentos nos projectos estruturantes. Os corredores, a transição energética e a transformação agroindustrial devem ser atravessados pelo Pacto com a África ou o Portal Global”, afirmou.

    Mahamoud Ali Youssouf defendeu, igualmente, a necessidade de uma reforma da arquitectura financeira internacional, de modo a reduzir o custo do capital e facilitar o acesso ao financiamento, bem como a adopção de mecanismos que permitam uma gestão sustentável da dívida dos países africanos.

    Outro ponto essencial destacado pelo presidente da Comissão da União Africana foi a exigência de justiça climática, para que os planos de adaptação africanos tenham acesso ao financiamento adequado, não como caridade.

    Sublinhou que o continente é rico em recursos renováveis, mas recebe financiamento climático insuficiente, o que prejudica os seus sectores socioeconómicos, que dependem desses investimentos para o desenvolvimento.


    Parcerias mais equilibradas
    Mahamoud Ali Youssouf apelou a parcerias comerciais mais equilibradas, convidando a Europa a investir directamente na transformação local dos recursos minerais, e a eliminar barreiras tarifárias e não tarifárias que condicionam o acesso dos produtos africanos ao mercado europeu.

    “Apelo ao investimento europeu no processo de transformação dos nossos recursos minerais no continente, à eliminação de quaisquer barreiras tarifárias ou não tarifárias que dificultem o acesso dos produtos africanos ao mercado europeu”, defendeu.

    Reagindo à Cimeira de Luanda, o presidente da Comissão da União Africana, Ali Youssouf mostrou-se confiante nos resultados e disse acreditar que a mesma vai permitir consolidar a visão comum de paz, progresso e prosperidade para os povos africanos e europeus.

    “Podemos fazer esta jornada juntos, em prol da humanidade que partilhamos, e não de egoísmos ou protecionismos estéreis”, afirmou.