• “A juventude africana é um dos maiores trunfos para o nosso futuro partilhado”


    A União Europeia (UE) apontou, segunda-feira, em Luanda, a jovem geração africana, criativa, dinâmica e em rápido crescimento, como um dos maiores trunfos do futuro compartilhado com o continente berço da humanidade.

    O reconhecimento foi assinalado pelo presidente do Conselho Europeu, António Costa, tendo acrescentado a energia deste segmento, bem como a inovação e ambição essenciais para construir um mundo mais próspero, estável, e mais sustentável, como se deseja.

    O ex-Primeiro-Ministro português sublinhou que investir na juventude africana não é apenas investir em África, é, sobretudo, investir no futuro dos dois continentes.

    Ao discursar na abertura da 7.ª Cimeira União Africana-União Europeia, sob o tema “Promover a Paz e a Prosperidade através do Multilateralismo eficaz”, António Costa acentuou que a África e a Europa não estão apenas ligadas pela geografia e história comum. “Somos parceiros por escolha mútua, unidos por interesses comuns, prioridades e valores partilhados”.

    Em reacção ao 25.º aniversário desde o estabelecimento da parceria entre os dois blocos, o presidente do Conselho Europeu disse que África e Europa precisam hoje uma da outra "mais do que nunca", numa economia global mais conflituosa.

    António Costa enfatizou que os laços entre os dois continentes envolvem também a sociedade civil, os parlamentos, o sector privado e especialmente “a nossa juventude”.

    O presidente do Conselho Europeu acrescentou que os respectivos povos continuam a ser “a nossa maior força. “Juntos, África e Europa representam quase dois mil milhões de cidadãos. E só teremos sucesso se respondermos às suas aspirações de estabilidade, dignidade, oportunidade e com um futuro sustentável”, acentuou.

    Um futuro liderado pelas novas gerações
    António Costa, que se mostrou honrado por discursar no evento que acontece em Luanda, atendendo os laços de amizade e de cooperação com o seu país de nacionalidade, Portugal, voltou a sublinhar, mais uma vez, que “a jovem geração africana está no centro desta promessa e o futuro que estamos a construir será vivido, construído e liderado pelas novas gerações”.

    O presidente do Conselho Europeu assegurou, na ocasião, que hoje mais do que nunca, neste mundo incerto e contestado, a União Europeia é e continuará a ser um parceiro credível, fiável, atento e solidário para com África. “Só podemos construir um futuro próspero e seguro se o fizermos juntos. E como aqui se diz em Angola, ‘Estamos Juntos’”, acentuou.

    Costa destacou o facto de a 7.ª Cimeira celebrar o 25.º aniversário da parceria estratégica entre África e Europa, lançada na primeira reunião no Cairo, evento que visou na época conferir uma nova dimensão estratégica à parceria global entre os dois continentes para o século XXI, mas já num espírito de igualdade, respeito, aliança e cooperação.

    “Hoje, podemos afirmar, com orgulho, que juntos concretizamos essa ambição. Temos agora uma verdadeira parceria de continente para continente, e de povos para povos”, disse .

    Cenários de guerra em todo o mundo
    O líder do Conselho Europeu sublinhou a sua preocupação com o regresso da guerra e a sua persistência na Europa, em África e no Médio Oriente, alertando para o aumento da desinformação e da indiferença externa que, no seu entender, minam as democracias.

    Acrescentou à lista de preocupações a turbulência sem precedentes que os mercados globais enfrentam, assim como a dívida global, que atingiu níveis política e socialmente incomportáveis, lembrando, por outro lado, que o multilateralismo e a ordem internacional baseada em regras estão sob forte pressão.

    Angola pós-independente no centro da abordagem
    Durante o discurso, António Costa disse que a História de Angola depois da independência demonstra bem como o mundo onde os blocos se confrontam não é um lugar de paz, mas de dificuldades.
    Diante desta realidade multipolar, o líder do Conselho Europeu apontou como caminho a cooperação multilateral. “A nossa visão conjunta para 2030 é hoje mais relevante do que nunca, porque assenta num compromisso para construirmos um futuro pacífico, próspero e sustentável, defendendo e melhorando o multilateralismo, orientando as nossas acções”.

    António Costa recordou que há 50 anos terminaram as colónias europeias em África, encerrando um ciclo de 500 anos de colonialismo, cujo momento mais dramático foi marcado pelo comércio de escravos.
    “As colónias europeias terminaram, mas infelizmente os efeitos do colonialismo não terminaram nessa altura. E isso deve nos inspirar a trabalhar em conjunto para uma paz e uma prosperidade através do multilateralismo”, reconheceu António Costa.

    Um processo de aproximação
    “Foi precisamente a luta de libertação dos povos africanos que acelerou a queda da ditadura no meu país, e a queda da ditadura no meu país acelerou os processos de independência. Sem a queda da ditadura, nunca o meu país seria membro da União Europeia e eu hoje não poderia estar aqui, lado a lado, com o Presidente da República de Angola”, assinalou António Costa.

    Para o presidente do Conselho Europeu, foi graças a esse duplo processo de libertação que aproximou as partes, uma experiência viva que, no seu entender, deve inspirar e intensificar a cooperação actual entre a União Europeia e a União Africana, para que os dois blocos possam "crescer”.

    Fraternidade gera prosperidade
    António Costa compartilhou com os Chefes de Estado e de Governo no evento que conhece “bem o Presidente João Lourenço e o povo angolano” há muitos anos. “Somos testemunhas que, quando a fraternidade entre os povos é forte, as nossas nações e os nossos continentes prosperam em conjunto”.

    O presidente do Conselho Europeu aproveitou a ocasião para felicitar Angola pelos 50 anos de Independência, e pela presidência “altamente bem-sucedida” na União Africana.

    Na senda das felicitações, saudou igualmente Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe, que também assinalaram este ano 50 anos de independência.

    Blocos representam 40 por cento das Nações Unidas
    António Costa que co-preside à Cimeira UA-UE com o Chefe de Estado angolano, João Lourenço, lembrou que a África e a Europa representam 40 por cento dos membros das Nações Unidas, sublinhando que estes números mostram bem a importância dos dois continentes nas relações multilaterais.

    Realçou neste capítulo o facto de as duas forças partilharem a responsabilidade de fazer ouvir as suas vozes e de moldar uma governação global mais justa. “Temos estado lado a lado na defesa de uma representação mais forte de África nas instituições internacionais”, indicou.

    Recordou que os dois blocos unidos garantiram a adesão da União Africana ao G20, e a criação de um novo lugar no Fundo Monetário Internacional (FMI), reforçando, igualmente, a aprovação no ano passado, na Assembleia-Geral das Nações Unidas, da Agenda para o Futuro.

    Para o presidente do Conselho Europeu, os exemplos acima demonstram bem que “a voz unida foi e é fundamental para podermos progredir”.

    “Continuemos, portanto, a reforçar a nossa coordenação em todas as grandes discussões multilaterais que se avizinham. A paz sustentável e a boa governação são essenciais para a segurança e prosperidade dos continentes”, enfatizou António Costa.

    Principal parceiro de segurança de África
    António Costa disse, ainda, que a União Europeia (UE) é o principal parceiro de segurança de África, e que isso é, consequentemente, um investimento à própria segurança do bloco europeu.

    Garantiu que a organização que representa está empenhada em mobilizar todo o leque de ferramentas de segurança e defesa, desde missões civis e militares, até à consolidação da paz, estabilização, combate a ameaças híbridas, ciberataques, desinformação e terrorismo.

    Acima de tudo, reforçou, os esforços levados a cabo apoiam a estabilidade africana e a integração regional. “A nossa parceria baseia-se em interesses partilhados e num benefício mútuo genuíno”, referiu.

    Potencial para o reforço da cooperação comercial
    António Costa disse existir um enorme potencial para que África e a Europa aprofundem a cooperação no comércio, na integração regional, nas cadeias de abastecimento resilientes e nas matérias-primas críticas, o que apontou como pilares da prosperidade, transições verdes e digital.

    O presidente do Conselho Europeu afirmou que a parceria União Europeia-União Africana visa uma cooperação mais forte, que não seja transacional, mas sim uma parceria de valor mútuo que reforce a autonomia estratégica de África e evite novas dependências.

    Segundo Costa, o objectivo é fortalecer a ligação entre os blocos para que possam "crescer juntos e proteger-se mutuamente", enfrentando desafios globais como as alterações climáticas, a transformação digital, a migração e a segurança.